23 de janeiro de 2014

Off-topic: Trecho do discurso de T. S. Elliot ao receber o Nobel de Literatura em 1948

"[...] A poesia é geralmente considerada como a mais local das artes. A pintura, a escultura, a arquitetura, a música podem encantar todos os espectadores e ouvintes. Mas a linguagem, em particular a linguagem da poesia, é absolutamente distinta. Parece até que a poesia, ao invés de unir os povos, os separa.
Mas é preciso lembrar também que se a linguagem levanta barreiras entre os povos, a poesia nos fornece uma razão para tentar derrubar tais barreiras. Gostar da poesia de outra língua é querer compreender o povo a que pertence essa linguagem - compreensão que não pode ser adquirida de outra forma. Pensemos também na história da poesia na Europa e na extraordinária influência que uma língua pode exercer sobre outra. É preciso ter em mente a imensa dívida de cada grande poeta com os poetas de outras línguas. Não esqueçamos que poesia de cada país e de cada língua definharia e desapareceria se não fosse alimentada pela poesia de língua estrangeira. Quando um poeta se dirige a seus compatriotas, transmite também a voz de todos os poetas de outras línguas que o marcaram. E fala ao mesmo tempo aos jovens poetas estrangeiros, que transmitirão a seu povo algo da visão de mundo e do espírito daquele povo. Em parte graças à sua influência sobre outros poetas, em parte graças à tradução, que deve ser compreendida como uma recriação de poemas por poetas, em parte graças aos leitores que não são eles próprios poetas, mas dividem a mesma língua, o poeta pode desempenhar um papel fundamental na compreensão entre os povos."

In: Tous les discours de réception des prix Nobel de Littérature, Flammarion, 2013.

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